segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Aula 12 - A escola de Frankfurt

A “Escola de Frankfurt” é o nome que se dá a um grupo de pesquisadores (alemães, na maioria), que se reuniam em torno do Instituto de Pesquisa Social, ligado à Universidade de Frankfurt, a partir de 1923.

Sua primeira orientação era realizar estudos sistemáticos sobre a sociedade capitalista e o movimento operário mas, pouco depois de sua fundação (1930), amplia seus horizontes para reunir pesquisadores em torno de estudos críticos sobre a cultura capitalista, e a psicologia. Uma de suas principais ambições era realizar uma síntese entre Marx e Freud, ou seja, examinar os fundamentos culturais e psicológicos do modo capitalista de produção e, inversamente, os efeitos do capitalismo na cultura e no psiquismo.

Alguns dos principais nomes da escola de Frankfurt

- Max Horkheimer

- Teodor Adorno

- Walter Benjamin

- Eric Fromm

- Herbert Marcuse

- Jurgen Habermas

Devido às perseguições promovidas pelo nazismo, O instituto de pesquisas sociais muda-se para a Califórnia, em 1934. Ali, os pesquisadores alemães se vêm diante do mais avançado exemplo de sociedade capitalista da época: Os Estados Unidos. O choque com a sociedade de consumo americana leva os pesquisadores a realizarem uma série de pesquisas e reflexões que ficou conhecida pelo nome de “teoria crítica”. A teoria crítica busca demonstrar o quanto a sociedade capitalista avançada, a industrialização e a cultura de massa possuem aspectos negativos. Ela denuncia a alienação, a corrupção da cultura, a infantilização e a nova forma de escravidão a que o ser humano “moderno” está sujeito. Os autores da escola de Frankfurt, no entanto, não formam um todo homogêneo. A teoria crítica tem nuances e opiniões às vezes opostas, como o encantamento de Benjamim pela cidade moderna e o pessimismo de Adorno.

Alguns dos textos mais importantes para a a crítica da cultura de massa foram produzidos pelos autores frankfurtianos:

- “A dialética do esclarecimento” (De Adorno de Horkheimer)

- “A ideologia da sociedade industrial” ou “o homem unidimensional” ( De Marcuse)

- “A obra de arte na época da reprodutibilidade técnica” (De Benjamim)

Elementos da teoria crítica

Marcuse, Adorno e Horkheimer, principalmente, estão preocupados em demonstrar como a sociedade de consumo é alienante e desumanizante. Eles têm consciência de que sua crítica não é sentida pelas pessoas que participam como consumidores da sociedade. Para uma boa parte dos norte-americanos da época, a industrialização trouxe os benefícios de uma vida confortável. As casas estão cheias de eletrodomésticos, há tempo para o lazer de massa e o cidadão médio participa tem o poder de compra elevado.

Em meio a essa festa de consumo, os teóricos da escola de Frankfurt vêem a opressão. Para isso, eles recorrem à dicotomia entre “civilização” e “cultura”.

“Civilização” é o mundo do trabalho, das condições materiais de existência, da reprodução do sistema de dominação; “Cultura” é o mundo das idéias, dos sentimentos elevados, da ética, das mais profundas aspirações do ser humano.

Num primeiro momento, a cultura ainda era uma promessa: de liberdade, de realização, de plenitude. Mesmo que essa cultura fosse, de alguma forma, negada aos trabalhadores (era privilégio da elite), ela permanecia como um marco simbólico, testemunha crítica de que o ser humano é mais do que trabalho e dinheiro, é mais que uma mercadoria ou um produtor . testemunha de que poderia haver um mundo além da mera satisfação das necessidades materiais.

Quando a tecnologia empurra o mundo para a industrialização, o que os frankfurtianos percebem é percebem é que a sociedade de consumo conseguiu colocar a civilização no lugar valorativo da cultura. A civilização “engole” a cultura e se transforma em “cultura de massa”. O cidadão americano, intoxicado pelo consumo e pela cultura de massa, deixou de ter aspirações elevados. Submete-se ao trabalho e a exploração.

Para a teoria crítica, a cultura de massa criou uma hiper valorização da subjetividade, dos sentimentos, da felicidade individual. Isso acabou por apagar as marcas da dominação concreta do mundo exterior.

A arte, para os críticos de Frankfurt, teria essa função de prometer um mundo de justiça e felicidade “no futuro”, enquanto o presente é marcado pela injustiça e pela opressão. Com o desenvolvimento da sociedade industrial “os bens culturais, concretizados em obras literárias, sistemas filosóficos e obras de arte são derrubados de seus pedestais, deixam de ser bens de consumo de luxo, destinados a uma elite burguesa, para se converterem em bens de consumo de massa”, graças à possibilidade de reprodução técnica (Benjamin).

Mas essa “derrubada” é apenas aparentemente democratizante. A cultura se transforma em mercadoria e perde o seu potencial emancipatório, a sua espiritualidade e capacidade de levar o homem a um estado de liberdade acima das necessidades materiais do dia-a-dia.

“A nova produção cultural tem a função de ocupar o espaço do lazer que resta ao operário e ao trabalhador assalariado depois de um longo dia de trabalho, a fim de recompor suas forças para voltar a trabalhar no dia seguinte, sem lhe dar trégua para pensar sobre a realidade miserável em que vive”.

Ela cria a ilusão de uma “felicidade” no presente, que é sempre conquistada pelo consumo (material ou simbólico). Se vive a liberdade de escolha entre produtos lançados no mercado. A cultura é marcada por 3 fatores:

- Serialização

- Padronização

- Divisão social do trabalho

Alguns autores apontam que a teoria crítica traz uma certa nostalgia de uma forma de arte que, afinal, nunca esteve disponível para a maioria das pessoas do mundo. Ela é acusada de ser elitista: é uma crítica cultural que remonta ao mundo (impossível) anterior à técnica industrial.

Eixo

Um dos eixo principais da escola de Frankfurt é a crítica à “racionalidade técnica”. Adorno, Horkheimer e até Benjamin estão preocupados com o surgimento de uma cultura instrumental, ou seja, uma cultura na qual a experiência estética, a ética, o saber e, finalmente, a totalidade do ser humano só fazem sentido como meios de produção. É uma cultura voltada à “funcionalidade” de tudo o que existe. Esse mesmo tema será retomado posteriormente por outro filósofo que se liga à escola de Frankfurt depois da guerra: Jurgen Habermas.

Uma das importantes colaborações de Habermas é a crítica ao espaço público das sociedades industriais. Se, no começo da modernidade, o espaço público fazia a mediação entre o Estado e a Sociedade, o desenvolvimento do industrialismo faz com que a função pública se transforme em função publicitária. Não é mais o debate entre homens livres e esclarecidos, mas um mecanismo de criação de opiniões, baseadas em discursos de sedução e manipulação. O cidadão tende a se transformar em um consumidor de comportamentos espetacularizados e atitudes estereotipadas.

Atualmente, podemos pensar que os meios de comunicação e até o jornalismo colaboram com essa construção. O que vemos no jornal e na TV não é capaz de mobilizar as pessoas para que percebam a real situação de exploração da sociedade. Os fatos não são conectados nem interpretados de maneira a constituírem um todo, que permitiria uma visão transformadora do mundo. Eles são fragmentados, individualizados (o “personagem” da matéria jornalística), espetacularizados. Nos afastam de uma certa concepção de “realidade” que seria dada pelas condições materiais de existência.

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