sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

PERGUNTAS E RESPOSTAS

Para ajudar a turma, segue um conjunto de perguntas que me foi encaminhado por email, com as respectivas respostas sobre o texto 1, “A Emergência da questão comunicacional na modernidade”.

Edilson.

1.
Logo no 2º parágrafo do texto: quando que a comunicação torna-se um problema? Algo passível de questionamento? Por quê? É quando, segundo o 1º parágrafo da página 25, a voz de Deus deixa de ser a única voz possível?


Como vimos, é só na modernidade que a questão comunicacional começa a fazer sentido, em um mundo racionalizado e secularizado, no qual cada um tem que exercer sua liberdade para criar seus laços sociais. No mundo tradicional, a vida de cada um era “dada de antemão” o que fazia desnecessária a “construção” da comunicação.


2.
2º parágrafo da página 25. Os ritos, os modos de dizer e fazer, a que isso se refere? Às crenças? Lazer comum? Ao trabalho, carreira decidida pela herança?

A tudo isso e mais. Quem disse que eu sou um professor de jornalismo? É necessária uma instituição que afirme isso e que regule o que eu posso e não posso dizer e fazer na condição de professor de jornalismo. É necessário que eu cumpra os ritos (dar provas, fazer chamada, preparar a aula). Mas também é necessário que vocês acreditem que eu seja um professor de jornalismo e que a sociedade me veja como tal.


3.
1º parágrafo, página 27. Como a herança mitológica determina a vida cotidiana e organiza a sociedade? As “narrativas das origens”, as quais o texto se refere, são mitos de criação, deuses, histórias antigas? Como elas estabelecem um quadro estável para a vida comunitária (último parágrafo da mesma página)?

Lembra-se do tempo cíclico? Nas sociedades tradicionais, para saber o que eu tenho que fazer com minha vida era necessário olhar o passado e não o futuro. A mitologia dava a todos um passado comum e, portanto, regulava da mesma forma o futuro de todos.


4.
Esses mitos religiosos foram sendo “derrubados” e questionados a partir do uso da razão para explicar as coisas. A organização coletiva que eles estabeleceram também foi sendo rompida e modificada?

Sim, e isso é a modernidade!


5.
O autor passa quase uma página e meia (páginas 29 e 30) falando de vestuário e moda. Não entendi a relevância e a relação com a comunicação.

É só um exemplo. Nas sociedades antigas, o que você vestia era determinado pela tradição. Ninguém escolhia “livremente” suas roupas. Na modernidade, não há mais essa estabilidade. O tempo todo você tem que decidir o que vestir. E quem oferece os modelos? A comunicação e a moda.


6.
Quando o autor fala de espaço coletivo (particularmente, página 32), ele fala de praças, teatros, casas, bairros, espaços concretos, ou de espaços abstratos, como esferas políticas, econômicas e etc?

Lá ele está se referindo aos espaços concretos, mas funciona da mesma forma porque esses espaços serão o suporte físico da chamada “esfera pública” na modernidade.
7. Ainda sobre os espaços, mais tarde (página 33) ele usa a arquitetura pra falar de catedrais, castelos e outros lugares concretos e que estes passaram a ser funcionais. Para que eles serviam antes das obras de L. B. Alberti? Na página 34, diz-se que eram polifuncionais. O que isso quer dizer?

Serviam para mais de uma coisa, tinham mais que uma função. O palácio era a casa do rei, mas também era a sede do governo, da justiça, o espaço de visibilidade da corte etc; O mesmo para as catedrais.

8. Último parágrafo da página 34, que continua na página 35. No finzinho no parágrafo, diz-se que a troca de palavras poderia ser censurável e inconveniente. Isso me soa meio contraditório, porque eu tinha entendido que, uma vez que o indivíduo pode escolher e trilhar o seu próprio destino, ele precisaria de novos laços com as pessoas e que, para isso, precisaria de comunicação. Eu entendi errado? O processo não é esse?

Ele está falando do movimento de urbanização. Se nas sociedades rurais tradicionais, cada um sabia o que dizer e com quem falar (eram regulados pela tradição), no mundo urbano moderno as pessoas não se conhecem. A cidade inibe as trocas diretas entre as pessoas porque elas não conhecem mais seu lugar e nem o lugar do outro. Isso é importante porque é no vazio das trocas diretas que florescem as trocas mediadas, ou seja, a comunicação de massa.


9.
No próximo parágrafo da mesma página, surge pra mim uma outra contradição. “Reservar a cada função e a cada indivíduo o seu justo lugar”. Eu tinha entendido que as funções deixaram de ser predeterminadas.

Se nas sociedades tradicionais todos eram “mais ou menos iguais” e tinham um destino semelhante, no mundo moderno reina a fragmentação e a especialização. É necessário criar regras novas para que as pessoas aprendam como devem agir, ou seja, aprendam o “seu lugar” na nova sociedade. Assim, surgem, por exemplo, os bairros dos pobres, dos imigrantes... No lugar da sociedade homogênea, a colcha de retalhos da cidade contemporânea.


10.
Página 37, primeiro parágrafo. Ele fala do livre acesso do povo ao espaço público na idade média. Porém, no fim da idade média, principalmente na Inglaterra, houve a política dos cercamentos. Essa política alterou a ordem social e o ciclo de vida e trabalho predeterminados, uma vez que houve intenso êxodo rural? Quais problemas, na área de comunicação, surgiram a partir desse movimento migratório?

Os cercamentos estão relacionados ao começo do capitalismo. Os camponeses foram expulsos de suas terras e, sem ter como ganhar a vida de outra forma, migraram para as cidades, onde se tornaram operários. Daí começa o fenômeno da urbanização (crescimento das cidades), que é fundamental no processo de modernização.


11.
Página 37, última linha. “Institui a única ordem legítima do saber”. Essa ordem é a de Deus ou do senhor feudal?
De ambos: O poder do senhor feudal é, ao mesmo tempo, político e religioso. Lembremos que os reis eram escolhidos por “Deus”.

12.
Página 38, 2º parágrafo. A privacidade da burguesia são os bens por ela adquiridos? São espaços ou esferas abstratas de convivência? E quando a burguesia pede autoridade e autonomia perante o Estado, fala-se de mercantilismo e liberalismo?

É isso aí. O “mercado” surge nessa época, regulando as atividades das pessoas. Para a burguesia ascendente, o Estado era apenas uma forma de regulamentar o mercado e de facilitar as trocas econômicas. O governo não deve ser mais “soberano”, mas uma instituição técnica, que facilite a circulação de mercadorias.

Karin Ellert Salomão,
Turma 1D de jornalismo, Mackenzie.